A estudante Adriene Cyrilo, que foi atingida por um tiro dentro do carro do jogador Adriano, passa por uma cirurgia de reconstrução da mão esquerda, na manhã desta terça-feira (27). Ela está internada no Hospital Barra D'or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A jovem foi atingida na mão na madrugada de sábado (24), depois de deixar uma boate na Barra acompanhada de outras três mulheres, do jogador e um amigo.
Segundo o hospital, a previsão é que a cirurgia termine no início desta tarde.
A equipe de ortopedia responsável pelo caso acredita que a jovem não terá sequelas, pois o tiro atingiu apenas o osso, não afetando artérias nem o tendão.
Depoimento
Na segunda-feira (26), o jogador Adriano disse em depoimento à polícia que só pegou a arma que estava no carro apenas ela ter disparado. Adriano depôs durante 1h40 na 16ª DP (Barra da Tijuca).
Segundo Adriano, ele sabia que a arma estava no console do carro, entre o banco do carona e do motorista, um policial militar amigo dele. O jogador afirma que não viu quando a arma foi retirada do local. O jogador disse que ouviu o disparo, se assustou e olhou para o banco de trás do carro, mas não percebeu que alguém estava ferido.
Somente quando Adriene disse que seu dedo estava sangrando, Adriano diz que viu a arma em sua mão. Foi quando, segundo ele, tocou na arma pela primeira vez naquela noite. Adriano diz que então pediou ajuda a um amigo do policial que os seguia em outro carro, para levar Adriene a um hospital. O jogador disse também, no depoimento, que insistiu para que uma amiga a acompanhasse até o hospital.
Adriano contou ainda que pediu à mesma pessoa que levou Adriene ao hospital que apresentasse seu carro (de Adriano) à delegacia para perícia.
Sem caráter e má-fé
Segundo o advogado do atleta, Ivan Santiago, o depoimento foi bom e Adriano confirmou tudo o que havia dito anteriormente.
Ao chegar à delegacia, Adriano afirmou que a jovem baleada dentro do seu carro "não tem caráter e agiu de má-fé" ao acusá-lo de ter disparado a arma dentro do carro dele. Ele voltou a afirmar que estava no banco da frente do veículo e nega ter efetuado o disparo.
Segundo Adriano, quando viu que a jovem estava ferida, pediu para o amigo que dirigia o veículo parar. Nesse momento, ele contou que tirou a jovem de dentro do carro, tirou a camisa para cobrir o ferimento da vítima e pediu que o amigo levasse a jovem para o hospital.
O jogador contou ainda que foi ao hospital onde a jovem está internada para fazer o exame de resíduo de pólvora e não chegou a visitá-la nem pagou o hospital. "Não vejo necessidade de arcar com as custas", afirmou Adriano, sobre a acusação da jovem contra ele.
Ele negou conhecer a vítima, acrescentando que deu uma carona para ela a pedido de um amigo com quem estava no camarote de uma boate na Barra da Tijuca.
"Não sei por que ela está fazendo isso contra mim. Mas quando acontece alguma coisa com o Adriano a repercussão é sempre muito grande", afirmou o jogador durante entrevista concedida à imprensa ao chegar à delegacia. "Estou tranquilo, todo mundo sabe que não gosto de dar entrevistas, mas concordei em falar com vocês (imprensa) porque tenho família, estou preocupado e estou preocupado também com a minha imagem. Os exames (de resíduo de pólvora) vão comprovar o que realmente aconteceu", completou Adriano, ao chegar por volta das 18h à 16ª DP.
'Mentira é péssimo negócio', diz delegado
De acordo com o delegado Fernando Reis, o nome da estudante baleada consta como vítima em três processos - um de lesão corporal, outro de ameaça e um de saidinha de banco. "As investigações ainda estão no início, vamos aguardar ela operar para ver se conseguimos marcar uma acareação na quarta-feira (28). Mas se ela estiver mentindo que fique consciente de que se trata de um crime muito grave, que é chamado de denunciação caluniosa, que dá de dois a oito anos de prisão", afirmou Reis.
Mais cedo, o delegado afirmou que Adriano poderá responder por até dois crimes - fraude processual e lesão corporal culposa - caso tenha mentido no depoimento dado no sábado (24) e volte a mentir nesta segunda. Para o delegado, a “mentira é um péssimo negócio para ele”.
No primeiro depoimento, o delegado Carlos César, que estava excepcionalmente atuando na 16ª DP, disse que Adriano contou que foi a própria vítima que efetuou, acidentalmente, o disparo.
Já as testemunhas responderão por falso testemunho. “Ele sai de uma zona de conforto e faz uma aposta complicada, caso esteja mentindo”, afirmou. O delegado também afirmou que este tipo de caso requer “um extremo cuidado” porque Adriano é uma pessoa que já se envolveu em polêmicas “dessa ordem”. Para Reis, uma avaliação equivocada pode comprometer a investigação.
Tiro partiu do banco de trás
No domingo (25), o delegado afirmou que, de acordo com os primeiros dados da perícia, o tiro que atingiu a mão da estudante partiu do banco de trás. De acordo com Reis, o laudo conclusivo da perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli só deve ficar pronto entre 20 e 30 dias.
A vítima, de 20 anos, contou à polícia que o jogador disparou acidentalmente, ao manusear a arma do PM reformado. No entanto, além do jogador, outros dois ocupantes do carro afirmam que foi a própria vítima que fez o disparo.
Das seis pessoas ouvidas pela polícia, a estudante é a única que diz que o jogador estava no banco de trás do carro. Em depoimento, Adriano contou que estava no banco do carona dianteiro de seu carro, que era dirigido pelo amigo policial. O PM confessou à polícia que a arma era de sua propriedade. A Polícia Civil adiantou que o policial vai responder a um processo adminsitrativo por negligência ou omissão na guarda de arma de fogo.
Acareação
Para o delegado é “indispensável” uma acareação entre a vítima e os outros ocupantes do carro, incluindo o jogador. A expectativa da polícia é ouvir a jovem, assim que ela receber alta do Hospital Barra D´Or. A polícia também pretende fazer uma reconstituição do caso.