Na terra de Campos, Dilma sugere que Marina 'virou a casaca'
Em comício lado de Lula no Recife, presidente-candidata criticou os recuos no programa de governo da adversária. Ex-presidente disse que Aécio 'já está fora'
Felipe Frazão, do Recife (PE)
04/09/2014 - A candidata do PT à reeleição, Dilma Roussef,
o ex-presidente Lula e o candidato ao governo de Pernamabuco, Armando
Monteiro, durante comício em Recife
(Alexandre Gondim/Folhapress)
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Nem Lula nem Dilma citaram nominalmente Marina e Campos, mas ambos fizeram críticas ao discurso dos pessebistas que ocuparam cargos no governo Lula. Por ter proximidade com ambos, o ex-presidente fez a ressalva de que não estava ali "para falar mal ou para ferir ninguém". É um sinal de recuo frente à ofensiva lançada pelo marketing da campanha de Dilma, que decidiu procurar o embate direto com Marina. "Estou vendo as pessoas falarem a palavra 'nova política', e a pessoa já foi vereadora, deputada estadual, federal, senadora. Se tem uma 'nova política' no país é a Dilma que nunca foi política", disse Lula.
Marina e seu antecessor, Eduardo Campos, foram alfinetados de forma indireta por Dilma e caciques petistas, como o senador Humberto Costa, o candidato ao Senado João Paulo, ex-prefeito de Recife, e pelo candidato ao governo pernambucano, Armando Monteiro (PTB), que perdeu terreno para o rival Paulo Câmara (PSB), afilhado político de Campos, na disputa estadual. A presidente afagou os cerca de 20.000 cabos eleitorais e militantes presentes, segundo a organização, e ainda adaptou o slogan de Campos, que virou mote da candidatura de Marina – "Não vamos desistir do Brasil". "Acreditei no Brasil minha vida inteira e não desiste dele nem quando fui presa e torturada, porque o nosso país é muito mais do que um bando de ditadores", disse. "Aprendi com Lula, um dos filhos mais queridos de Pernambuco, que sempre nos deu lideranças fortes, a ter verdadeira paixão por Pernambuco."
Vira-casaca – Dilma voltou a reprovar o programa de governo de Marina, acusando a rival de não priorizar o pré-sal, cujos recursos a presidente-candidata promete reverter para a educação. Dilma também repetiu a afirmação de que as propostas de Marina gerariam desemprego. Ela alfinetou os recuos no programa do PSB, que soltou erratas sobre a defesa dos direitos de homossexuais e da política de energia baseada em usinas nucleares. "Aqui nesse palanque estão as pessoas que não mudam de lado, que não viram a casaca, não dizem uma coisa hoje e outra amanhã", disse Dilma. "Não podemos aqui aceitar aqueles que negociam o emprego e o salário, numa pretensa, falsa política sem sustentação para enganar a população".
Dilma também alfinetou Campos, ao citar obras e investimentos no Estado que o ex-governador usava como vitrine eleitoral: como a Refinaria Abreu e Lima – alvo de investigação da CPI da Petrobras –, estaleiros e a instalação da fábrica de automóveis da Fiat. "Tem muito cara de pau por aí. Quantas vezes vocês escutaram que a transposição do São Francisco foi feita por uma pessoa só? Não, a transposição começou com Lula e eu dei continuidade."
O coordenador da campanha de Dilma em Pernambuco, senador Humberto Costa (PE), questionou a falta de realizações de Marina. Ele também assumiu como do governo federal a "paternidade" de obras que Campos. "Pernambuco só se curva para agradecer. Existe um defeito que Pernambuco não tem que é o defeito da ingratidão. Quando eu olho essas pesquisas que dizem que Marina está na frente de Dilma eu custo a acreditar. Dou um prêmio a quem achar um tijolo que ela tenha botado aqui quando foi ministra".
Tragédia – Os únicos a citarem a queda do jatinho que matou Campos foram João Paulo e Armando Monteiro, que disputam cargos na chapa local. Eles tentaram dar como "encerrada" a comoção pela morte de Campos, após a qual os pessebistas Marina Silva e Paulo Câmara subiram nas pesquisas de intenção de voto. “Teve gente nessa batalha incansável que tentou se utilizar uma tragédia nacional para reverter o cenário eleitoral", acusou João Paulo. Ele também disse que os partidários de Campos "apropriaram-se de forma injusta e indecente" das obras em Pernambuco, "sem dar crédito" a Lula e Dilma.
Monteiro, que é candidato ao Palácio das Princesas e ex-aliado de Campos, preferiu um tom menos beligerante. "Pernambuco vive um momento especial, o momento de um povo que sabe reverenciar a memória de suas figuras públicas. Pernambuco sempre teve a compreensão que tem de reverenciar a memória de muitos, mas tem o compromisso de trabalhar olhando para frente."
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