quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Na terra de Campos, Dilma sugere que Marina 'virou a casaca'

Em comício lado de Lula no Recife, presidente-candidata criticou os recuos no programa de governo da adversária. Ex-presidente disse que Aécio 'já está fora'

Felipe Frazão, do Recife (PE)
04/09/2014 - A candidata do PT à reeleição, Dilma Roussef, o ex-presidente Lula e o candidato ao governo de Pernamabuco, Armando Monteiro, durante comício em Recife
04/09/2014 - A candidata do PT à reeleição, Dilma Roussef, o ex-presidente Lula e o candidato ao governo de Pernamabuco, Armando Monteiro, durante comício em Recife   (Alexandre Gondim/Folhapress) 
 
Para evitar perder eleitorado no Nordeste, a presidente-candidata Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula fizeram na noite desta quinta-feira um comício à beira-mar em uma favela urbanizada no Recife (PE), a comunidade Brasília Teimosa. Foi a primeira vez que eles voltaram ao Estado em campanha após a morte do ex-governador Eduardo Campos, sucedido por Marina Silva na disputa. Coube ao padrinho político de Dilma expor a estratégia do comitê petista para os próximos trintas dias de campanha. Ele afirmou que o tucano Aécio Neves não está mais no páreo. "A única previsibilidade que se tem é que ele já está fora da disputa eleitoral de 2014 e não foi capaz de prever isso", disse ironizando o discurso do tucano, que promete governar com "previsibilidade" de regras na economia.

Leia também:
Campanha de Marina diz que programa passa por revisão
Lula sinaliza volta em 2008, tropica e desaba no palco
Paulo Câmara sobe 23 pontos e empata com Monteiro em PE

Nem Lula nem Dilma citaram nominalmente Marina e Campos, mas ambos fizeram críticas ao discurso dos pessebistas que ocuparam cargos no governo Lula. Por ter proximidade com ambos, o ex-presidente fez a ressalva de que não estava ali "para falar mal ou para ferir ninguém". É um sinal de recuo frente à ofensiva lançada pelo marketing da campanha de Dilma, que decidiu procurar o embate direto com Marina. "Estou vendo as pessoas falarem a palavra 'nova política', e a pessoa já foi vereadora, deputada estadual, federal, senadora. Se tem uma 'nova política' no país é a Dilma que nunca foi política", disse Lula.

Marina e seu antecessor, Eduardo Campos, foram alfinetados de forma indireta por Dilma e caciques petistas, como o senador Humberto Costa, o candidato ao Senado João Paulo, ex-prefeito de Recife, e pelo candidato ao governo pernambucano, Armando Monteiro (PTB), que perdeu terreno para o rival Paulo Câmara (PSB), afilhado político de Campos, na disputa estadual. A presidente afagou os cerca de 20.000 cabos eleitorais e militantes presentes, segundo a organização, e ainda adaptou o slogan de Campos, que virou mote da candidatura de Marina – "Não vamos desistir do Brasil". "Acreditei no Brasil minha vida inteira e não desiste dele nem quando fui presa e torturada, porque o nosso país é muito mais do que um bando de ditadores", disse. "Aprendi com Lula, um dos filhos mais queridos de Pernambuco, que sempre nos deu lideranças fortes, a ter verdadeira paixão por Pernambuco."

Vira-casaca – Dilma voltou a reprovar o programa de governo de Marina, acusando a rival de não priorizar o pré-sal, cujos recursos a presidente-candidata promete reverter para a educação. Dilma também repetiu a afirmação de que as propostas de Marina gerariam desemprego. Ela alfinetou os recuos no programa do PSB, que soltou erratas sobre a defesa dos direitos de homossexuais e da política de energia baseada em usinas nucleares. "Aqui nesse palanque estão as pessoas que não mudam de lado, que não viram a casaca, não dizem uma coisa hoje e outra amanhã", disse Dilma. "Não podemos aqui aceitar aqueles que negociam o emprego e o salário, numa pretensa, falsa política sem sustentação para enganar a população".

Dilma também alfinetou Campos, ao citar obras e investimentos no Estado que o ex-governador usava como vitrine eleitoral: como a Refinaria Abreu e Lima –  alvo de investigação da CPI da Petrobras –, estaleiros e a instalação da fábrica de automóveis da Fiat. "Tem muito cara de pau por aí. Quantas vezes vocês escutaram que a transposição do São Francisco foi feita por uma pessoa só? Não, a transposição começou com Lula e eu dei continuidade."

O coordenador da campanha de Dilma em Pernambuco, senador Humberto Costa (PE), questionou a falta de realizações de Marina. Ele também assumiu como do governo federal a "paternidade" de obras que Campos. "Pernambuco só se curva para agradecer. Existe um defeito que Pernambuco não tem que é o defeito da ingratidão. Quando eu olho essas pesquisas que dizem que Marina está na frente de Dilma eu custo a acreditar. Dou um prêmio a quem achar um tijolo que ela tenha botado aqui quando foi ministra".

Tragédia – Os únicos a citarem a queda do jatinho que matou Campos foram João Paulo e Armando Monteiro, que disputam cargos na chapa local. Eles tentaram dar como "encerrada" a comoção pela morte de Campos, após a qual os pessebistas Marina Silva e Paulo Câmara subiram nas pesquisas de intenção de voto. “Teve gente nessa batalha incansável que tentou se utilizar uma tragédia nacional para reverter o cenário eleitoral", acusou João Paulo. Ele também disse que os partidários de Campos "apropriaram-se de forma injusta e indecente" das obras em Pernambuco, "sem dar crédito" a Lula e Dilma.

Monteiro, que é candidato ao Palácio das Princesas e ex-aliado de Campos, preferiu um tom menos beligerante. "Pernambuco vive um momento especial, o momento de um povo que sabe reverenciar a memória de suas figuras públicas. Pernambuco sempre teve a compreensão que tem de reverenciar a memória de muitos, mas tem o compromisso de trabalhar olhando para frente."

Nenhum comentário:

Arquivo do blog

Quem sou eu

Minha foto
Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.