domingo, 21 de fevereiro de 2010

Símbolo do Rio de Janeiro, boto sumirá até 2050

SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Presente no brasão da cidade do Rio, tal a quantidade que havia, o boto --chamado de golfinho pelos leigos-- tende a desaparecer da baía de Guanabara antes da metade do século.

De uma população de alguns milhares há até 50 anos, só restaram 40, aponta monitoramento inédito do Laboratório Maqua (Mamíferos Aquáticos) da Faculdade de Oceanografia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Iniciado em 1995, o trabalho encontrou, três anos depois, 80 exemplares do animal nas águas da baía. No final de 2009, a quantidade havia se reduzido pela metade. Essa queda de 50% em pouco mais de dez anos faz com que os oceanógrafos já considerem residual a presença do boto na baía.

Os dados do Maqua levaram os especialistas a concluir que, em 20 anos, mantido o atual estado de degradação, sobrarão três ou quatro botos em toda a baía. Dez anos depois, nenhum.

Também conhecido como golfinho de prata, o boto-cinza está no brasão do Rio, em um par que representa, no desenho, a "cidade-marítima".

Os mamíferos que restam na Guanabara costumam circular pelo canal central de navegação (entre a boca e o fundo da baía) e se concentram, de manhã, nas imediações da ilha de Paquetá, onde a navegação é reduzida.

São os locais menos poluídos da baía. Até agora, porque o projeto do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) prevê a possibilidade de instalação de componentes industriais justamente na área frequentada pelos botos.

Já em construção, o Comperj funcionará em Itaboraí (cidade da região metropolitana). O Maqua foi convidado pela Petrobras para avaliar o impacto na baía de dutos de despejo de resíduos do complexo industrial. A questão está sob análise.

Os especialistas do Maqua são contra, por considerar que, por mais tratados que sejam os resíduos, não haverá como impedir algum tipo de poluição e a consequente contaminação das espécies animais por rejeitos químicos e orgânicos.

Outro fator que preocupa é que, desde o ano passado, próximo a Paquetá, funciona um terminal de GNL (Gás Natural Liquefeito) e está em construção um de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), ambos da Petrobras. Mesmo com cuidados ambientais, as novas instalações são nocivas aos botos, pois resultam no aumento da navegação e em mais poluição industrial e sonora, fatores que afugentam os animais.

O trabalho do Maqua conclui que a diminuição acelerada da quantidade de botos na baía resulta de três fatores: poluição orgânica e industrial, captura acidental em redes de pesca e perda de habitat. "Nenhuma população resiste a isso", disse à Folha o coordenador do Maqua, José Laílson Brito Júnior.

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.