segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mar avança sobre o Paraíba do Sul, no RJ, e água sai salgada da torneira

Paula Bianchi
Do UOL, em São João da Barra (RJ)

Estiagem baixa nível do rio Paraíba do Sul e saliniza água17 fotos

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As águas do Paraíba do Sul abastecem vários municípios do estado do Rio de Janeiro, inclusive a capital. A estiagem no Sudeste vem causando a salinização da água e o assoreamento do leito. Em muitos pontos, é possível atravessar o leito do rio caminhando, em locais antes navegáveis Mauro Pimentel/UOL
A água que chega na torneira da casa do pescador Vitor Pereira, 38, há algumas semanas traz um gosto de sal. Em breve, planeja, será preciso comprá-la. Morador de Atafona, distrito de São João da Barra, no norte fluminense, ele acompanha há anos a briga entre o mar e o rio Paraíba do Sul, que encerra ali o seu percurso. Ao todo, as águas do Paraíba percorrem 1.100 quilômetros, três Estados e 184 cidades, desde a nascente, na serra da Bocaina, em São Paulo, até a foz, a poucas quadras da casa de Pereira. Com a seca que atinge a região e levou o volume do rio ao seu nível mais baixo já registrado, no entanto, a disputa, que parecia empatada, se inverteu.
Onde alguns meses atrás havia um cais de cinco metros de profundidade, há agora uma praia. Os pescadores são obrigados a esperar a maré cheia para poder partir sem risco de encalhar - a pesca é uma das principais atividades do município, localizado a 316 quilômetros do Rio de Janeiro.
"O mar tomou conta", diz Pereira, que calcula ter diminuído pela metade a sua produção. "Antes a gente saía o dia inteiro para pescar, agora só com a maré cheia. O peixe de água doce também não vem mais, tem que entrar cinco, seis quilômetros rio adentro para encontrar."
Junto com ele e outros pescadores, Aldair Gomes da Silva, 42, se apressava para preparar a rede e sair assim que o nível da água se elevasse. Ele perdeu um barco preso em um banco de areia há algumas semanas. "A gente agora trabalha com hora marcada", diz.

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Resultado parcial
A falta de força do rio para impedir a entrada do mar, chamada de "língua salina", prejudica também o abastecimento da cidade, de 32 mil habitantes. Em muitos pontos, a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos) não tem conseguido captar água, que passou a ser retirada de poços artesianos cavados emergencialmente pela prefeitura. Creches e escolas têm sido abastecidas por caminhões-pipa desde o fim de outubro.
A administração do município começou a dragar um canal de cerca de 400 metros no rio a fim de ampliar a sua vazão e, ao menos, amenizar o problema. Perto das máquinas, o Paraíba, que antes vertia água criando lagos em seu caminho até o mar, agora lembra um riacho.
O MPF (Ministério Público Federal) entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) a fim de que seja decretado estado de "calamidade hídrica" no Estado. No dia 7 de novembro, o nível dos reservatórios equivalentes do Paraíba do sul (que representa a média dos níveis das diferentes represas) chegou a 5,9% - na mesma época do ano passado esse número beirava os 50%. 
"São João da Barra e outros municípios da região estão com problemas graves. Não se pode considerar que são situação isoladas", afirma o procurador Eduardo Santos de Oliveira, responsável pela ação, que defende uma ação imediata do governo. "O rio está seco. O que podemos fazer é tentar impedir que esta situação piore."

O secretário estadual do Ambiente, Carlos Francisco Portinho, enviou um ofício à ANA (Agência Nacional de Águas) no qual questiona a quantidade de água que existe no volume morto do reservatório de Paraibuna e qual percentual poderia ser utilizado. O secretário também pediu apoio da ANA na "elaboração e execução de um "plano de contingência".
O aposentado Lenilson Fernandes Braga, 65, que cresceu ao lado do Paraíba, diz nunca tê-lo visto tão baixo, e faz coro ao procurador. "Seca sempre teve, mas assim, com a água ficando salobra, não consigo lembrar. A situação da gente está muito triste."

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.