Mar avança sobre o Paraíba do Sul, no RJ, e água sai salgada da torneira
Paula Bianchi
Do UOL, em São João da Barra (RJ)
Do UOL, em São João da Barra (RJ)
A água que chega na torneira da casa do pescador Vitor Pereira, 38, há
algumas semanas traz um gosto de sal. Em breve, planeja, será preciso
comprá-la. Morador de Atafona, distrito de São João da Barra, no norte
fluminense, ele acompanha há anos a briga entre o mar e o rio Paraíba do
Sul, que encerra ali o seu percurso. Ao todo, as águas do Paraíba
percorrem 1.100 quilômetros, três Estados e 184 cidades, desde a
nascente, na serra da Bocaina, em São Paulo, até a foz, a poucas quadras da casa de Pereira. Com a seca que atinge a região e levou o volume do rio ao seu nível mais baixo já registrado, no entanto, a disputa, que parecia empatada, se inverteu.
Onde alguns meses atrás havia um cais de cinco metros de profundidade, há agora uma praia. Os pescadores são obrigados a esperar a maré cheia para poder partir sem risco de encalhar - a pesca é uma das principais atividades do município, localizado a 316 quilômetros do Rio de Janeiro.
"O mar tomou conta", diz Pereira, que calcula ter diminuído pela metade a sua produção. "Antes a gente saía o dia inteiro para pescar, agora só com a maré cheia. O peixe de água doce também não vem mais, tem que entrar cinco, seis quilômetros rio adentro para encontrar."
Junto com ele e outros pescadores, Aldair Gomes da Silva, 42, se apressava para preparar a rede e sair assim que o nível da água se elevasse. Ele perdeu um barco preso em um banco de areia há algumas semanas. "A gente agora trabalha com hora marcada", diz.
A falta de força do rio para impedir a entrada do mar, chamada de "língua salina", prejudica também o abastecimento da cidade, de 32 mil habitantes. Em muitos pontos, a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos) não tem conseguido captar água, que passou a ser retirada de poços artesianos cavados emergencialmente pela prefeitura. Creches e escolas têm sido abastecidas por caminhões-pipa desde o fim de outubro.
A administração do município começou a dragar um canal de cerca de 400 metros no rio a fim de ampliar a sua vazão e, ao menos, amenizar o problema. Perto das máquinas, o Paraíba, que antes vertia água criando lagos em seu caminho até o mar, agora lembra um riacho.
O MPF (Ministério Público Federal) entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) a fim de que seja decretado estado de "calamidade hídrica" no Estado. No dia 7 de novembro, o nível dos reservatórios equivalentes do Paraíba do sul (que representa a média dos níveis das diferentes represas) chegou a 5,9% - na mesma época do ano passado esse número beirava os 50%.
"São João da Barra e outros municípios da região estão com problemas graves. Não se pode considerar que são situação isoladas", afirma o procurador Eduardo Santos de Oliveira, responsável pela ação, que defende uma ação imediata do governo. "O rio está seco. O que podemos fazer é tentar impedir que esta situação piore."
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Francisco Portinho, enviou um ofício à ANA (Agência Nacional de Águas) no qual questiona a quantidade de água que existe no volume morto do reservatório de Paraibuna e qual percentual poderia ser utilizado. O secretário também pediu apoio da ANA na "elaboração e execução de um "plano de contingência".
O aposentado Lenilson Fernandes Braga, 65, que cresceu ao lado do Paraíba, diz nunca tê-lo visto tão baixo, e faz coro ao procurador. "Seca sempre teve, mas assim, com a água ficando salobra, não consigo lembrar. A situação da gente está muito triste."
Onde alguns meses atrás havia um cais de cinco metros de profundidade, há agora uma praia. Os pescadores são obrigados a esperar a maré cheia para poder partir sem risco de encalhar - a pesca é uma das principais atividades do município, localizado a 316 quilômetros do Rio de Janeiro.
"O mar tomou conta", diz Pereira, que calcula ter diminuído pela metade a sua produção. "Antes a gente saía o dia inteiro para pescar, agora só com a maré cheia. O peixe de água doce também não vem mais, tem que entrar cinco, seis quilômetros rio adentro para encontrar."
Junto com ele e outros pescadores, Aldair Gomes da Silva, 42, se apressava para preparar a rede e sair assim que o nível da água se elevasse. Ele perdeu um barco preso em um banco de areia há algumas semanas. "A gente agora trabalha com hora marcada", diz.
A falta de força do rio para impedir a entrada do mar, chamada de "língua salina", prejudica também o abastecimento da cidade, de 32 mil habitantes. Em muitos pontos, a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos) não tem conseguido captar água, que passou a ser retirada de poços artesianos cavados emergencialmente pela prefeitura. Creches e escolas têm sido abastecidas por caminhões-pipa desde o fim de outubro.
A administração do município começou a dragar um canal de cerca de 400 metros no rio a fim de ampliar a sua vazão e, ao menos, amenizar o problema. Perto das máquinas, o Paraíba, que antes vertia água criando lagos em seu caminho até o mar, agora lembra um riacho.
O MPF (Ministério Público Federal) entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) a fim de que seja decretado estado de "calamidade hídrica" no Estado. No dia 7 de novembro, o nível dos reservatórios equivalentes do Paraíba do sul (que representa a média dos níveis das diferentes represas) chegou a 5,9% - na mesma época do ano passado esse número beirava os 50%.
"São João da Barra e outros municípios da região estão com problemas graves. Não se pode considerar que são situação isoladas", afirma o procurador Eduardo Santos de Oliveira, responsável pela ação, que defende uma ação imediata do governo. "O rio está seco. O que podemos fazer é tentar impedir que esta situação piore."
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Francisco Portinho, enviou um ofício à ANA (Agência Nacional de Águas) no qual questiona a quantidade de água que existe no volume morto do reservatório de Paraibuna e qual percentual poderia ser utilizado. O secretário também pediu apoio da ANA na "elaboração e execução de um "plano de contingência".
O aposentado Lenilson Fernandes Braga, 65, que cresceu ao lado do Paraíba, diz nunca tê-lo visto tão baixo, e faz coro ao procurador. "Seca sempre teve, mas assim, com a água ficando salobra, não consigo lembrar. A situação da gente está muito triste."